IA: Um Futuro para Todos — Como Garantir que Ninguém Fica para Trás?

2 Dezembro, 2024

O desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA) suscita múltiplas reações no mundo do trabalho, da ansiedade à excitação pelo que a tecnologia pode oferecer. A IA apresenta uma oportunidade única para transformar o ambiente profissional de forma positiva e produtiva, mas também reconhecemos que essa transformação tem de ser gerida com cuidado e visão estratégica. A IA já está a impactar áreas fundamentais, com efeitos evidentes em três aspetos críticos: a poupança de tempo, o aumento da produtividade e o estímulo para que os colaboradores se concentrem em tarefas mais criativas e menos rotineiras. Contudo, estamos conscientes de que esta inovação, por si só, não chega. Há um caminho a percorrer para que ninguém fique para trás.

Um dos aspetos mais atraentes da IA é a capacidade de poupar horas preciosas na jornada de trabalho. Automação de tarefas repetitivas e uso de algoritmos para análises complexas libertam os colaboradores para se focarem em atividades mais estratégicas. O impacto direto? Menos tarefas administrativas, mais inovação e maior equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Mas é essencial que o tempo poupado não seja desperdiçado noutras áreas operacionais; ele deve ser aproveitado para elevar o valor e o impacto do trabalho humano.

Curiosamente, enquanto a IA diminui a carga de trabalho em certas frentes, o receio de que ela possa “roubar” postos de trabalho aumenta, alimentando preocupações sobre burnout e insegurança profissional. No nosso estudo, 93% dos colaboradores em Portugal expressam incertezas sobre a segurança do emprego devido à IA. Este dado é um alerta claro: embora a IA ajude a reduzir o trabalho repetitivo, precisamos de uma abordagem responsável na sua implementação. Cerca de 40% dos colaboradores relataram burnout nos últimos 12 meses, com este número a subir para 62% entre aqueles que se sentem preocupados com a IA. As empresas devem investir em políticas que promovam o bem-estar e a segurança psicológica, permitindo que os trabalhadores adotem a tecnologia com confiança, em vez de a verem como uma ameaça. Para que a IA seja uma aliada no combate ao burnout, é fundamental o apoio em formação e em planos de carreira adaptados à nova realidade.

A transição digital não é apenas uma questão de adotar novas ferramentas; ela exige, sobretudo, um investimento robusto em reskilling e upskilling. Atualmente, apenas 14% dos trabalhadores portugueses receberam formação sobre como aplicar IA nas suas funções, comparado a uma média global de 25%. Estes números mostram que temos um caminho a percorrer para preparar os nossos colaboradores. A formação contínua não é uma opção, mas uma necessidade para evitar que as pessoas se sintam desvalorizadas ou, pior ainda, obsoletas no mercado de trabalho. Precisamos garantir que a transformação seja inclusiva, beneficiando todos os colaboradores, de todas as gerações.

Para além de capacitar os colaboradores com as competências necessárias, é fundamental fomentar uma cultura organizacional onde a IA é vista como uma ferramenta de apoio, e não como um substituto. Num cenário de constante mudança, é vital que os líderes promovam um ambiente de inclusão, onde todos se sintam seguros para aprender e crescer. Uma estratégia eficaz de IA deve envolver todos os níveis da organização, com um compromisso claro para com a formação e o desenvolvimento de competências digitais.

Acredito que que o futuro é promissor, desde que seja construído de forma responsável e inclusiva. Esta é uma oportunidade de todos, para todos. A IA é, e deve ser, um trampolim para uma força de trabalho mais qualificada, valorizada e, acima de tudo, respeitada, assegurando que ninguém fica para trás.

Por: Alexandra Andrade, Country Manager da Adecco Portugal

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